No último ano, algumas cidades brasileiras tiveram sensação térmica de até 60° C, o que impactou muito o dia a dia da população. Apesar das alterações no clima serem sentidas por todos, essas ondas de calor afetam mais uns do que outros no Brasil. Dentro dessa experiência, as temperaturas elevadas no país estão evidenciando um recorte socioeconômico, já que os impactos são sentidos mais intensamente por grupos sociais mais vulneráveis.

E por que isso acontece?

Uma infraestrutura inadequada somada à concentração populacional elevada colocam em destaque as disparidades no acesso aos serviços de saúde e espaços verdes nas regiões periféricas. Esse cenário intensifica os danos dos eventos extremos para a população da periferia. A disseminação de doenças respiratórias e infecto-contagiosas, perda de bens materiais e agravamento das condições de desigualdade são apenas alguns problemas que a população periférica enfrenta.

Já o outro lado desse cenário desigual é, por exemplo, como em novembro de 2023, quando a onda de calor resultou em recordes de gasto de energia no país e nas vendas de aparelhos de ar condicionado. Paralelamente, em São Paulo, o corte de luz na periferia ocorreu até oito vezes mais frequentemente que no centro.

Além disso, as pessoas de baixa renda estão sujeitas a uma exposição 40% maior a períodos de calor extremo comparadas a indivíduos com maior poder aquisitivo. Isso ocorre por causa de onde estão localizados e pela falta de acesso a adaptações de calor, como ar condicionado, ventilador e abastecimento de água potável.

Os eventos climáticos extremos têm obrigado comunidades inteiras ao deslocamento forçado em busca de refúgio onde haja condições de uma vida digna, tema que abordamos aqui no Edukatu no texto: Migrações internas e crise climática. De acordo com a ONU, 216 milhões de pessoas podem estar em deslocamento dentro de seus próprios países até 2050.

Outro ponto importante é que a crise climática evidencia as desigualdades de gênero. Como exemplo, 80% das pessoas deslocadas pela crise climática são mulheres e meninas. E a capacidade delas de garantir recursos e gerar renda com segurança é comprometida, com secas prolongadas que afetam a segurança alimentar.

Nesse contexto, temos o que é chamado de injustiça ambiental. Esse termo define que populações de baixa renda e grupos sociais discriminados possuem maior carga dos danos ambientais, proveniente das desigualdades sociais.

Além disso, temos o racismo ambiental que se refere a injustiça ambiental causada a grupos étnicos e raciais historicamente marginalizados. Por exemplo, com a instalação de aterros sanitários e a falta de tratamento de esgoto em espaços que concentram em sua maior parte pessoas pretas e pardas economicamente vulneráveis com baixo acesso às políticas públicas.

Com isso, é perceptível a necessidade de mudança de cenários e quebra de estruturas de desigualdade. Promover o acesso equitativo aos recursos ambientais do país, ampliar o acesso às informações de localização de riscos ambientais e estímulo a modelos alternativos de desenvolvimento são algumas possibilidades. No entanto, todos possuem papel importante em promover uma sociedade mais justa e sustentável.

Todos podem contribuir para evitar o calor extremo causado pela crise climática adotando práticas sustentáveis:

— Reduzir o desperdício de energia, tirando da tomada os eletrodomésticos sem uso;

— Criar grupos de debates ativos sobre luta social e ambiental e a garantia de direitos de grupos de minoria para promover ações em seu condomínio e/ou bairro;

— Pesquisar e consumir produtos sustentáveis e de origem local, sempre que possível;

— Utilizar meios de transporte eco-friendly, como bicicletas, quando possível; e

— Plantar árvores e promover a criação de hortas orgânicas.

Combater a crise climática é crucial para preservar o meio ambiente, garantir a sustentabilidade, combater as desigualdades e proteger o planeta. As mudanças climáticas têm impactos sérios, como aumento do nível do mar e perda de biodiversidade. A crise também afeta a segurança alimentar, a saúde global e a estabilidade econômica. Agir agora é essencial para mitigar esses efeitos, combater os excessos e desperdícios e construir um meio ambiente mais sustentável, igualitário e equilibrado.

Saiba mais

Precisamos falar de racismo ambiental

O que é desigualdade climática?

Como abordar sobre enchentes com os estudantes?

É possível uma educação ambiental transversal nas escolas?

Referências

Racismo e injustiça ambiental. Disponível em: https://www.politize.com.br/racismo-e-injustica-ambiental/.

Brasil registra recorde de consumo de energia em meio a onda de calor. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/brasil-registra-recorde-de-consumo-de-energia-em-meio-a-onda-de-calor/.

Em São Paulo, corte de luz na periferia é até 8 vezes mais frequente que no centro. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/em-sao-paulo-corte-de-luz-na-periferia-e-ate-8-vezes-mais-frequente-que-no-centro.

Racismo ambiental existe. Disponível em: https://diplomatique.org.br/racismo-ambiental-existe/.

Segundo ONU, mulheres representam 80% das pessoas forçadas a migrarem por mudanças climáticas. Disponível em: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/segundo-onu-mulheres-representam-80-das-pessoas-forcadas-a-migrarem-por-mudancas-climaticas/.

29/02/2024

Publicado por Moderador edukatu
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