Que tal fazer uma exploração mais atenta e descobrir novidades no caminho que você faz para a escola!
Como você costuma ir para a escola? De carro? De ônibus? Se você mora perto, que tal ir a pé?
O desafio é tentar fazer o caminho para a escola prestando bastante atenção no meio de transporte que você utiliza e mudando o jeito que você olha para as coisas. Às vezes pela pressa ou falta de atenção perdemos coisas incríveis que estão a nossa volta!
Ao longo do caminho, utilize seu Diário de Pedestre, que pode ser uma página do seu caderno ou um bloquinho de folhas que você aproveitou para não desperdiçar papel. Nele anote o que você conseguiu perceber de diferente, inclusive as coisas que são novas para você.
Você também pode fotografar ou, se for possível, filmar sua exploração! Conheça aqui o projeto da UNESCO que fotografou a forma como alunos vão para a escola em vários lugares do mundo e os desafios que precisam enfrentar.
Compartilhe algo que você anotou em seu diário, publicando pelo espaço disponível abaixo:
Resposta:
“Não se deve separar a escola da vida”, comentava no seu dia o grande educador galo Celestin Freinet, um dos mais importantes da história da pedagogia mundial. Sob tão interessante frase acrescentava um lindo texto, que não tem desperdício algum e que gosto de reproduzir neste meu depoimento. Freinet diz-nos a todos: “Com muita frequência, no decurso das minhas atividades pedagógicas, a escola que conheci na infância impõe-se à minha lembrança. Percorríamos as ruas e os caminhos, embriagados pelo ar livre, nutridos por um labor que tinha para nós um sentido profundo, ligados à nossa vida presente e futura, com jogos naturais e os cantos das aves. As preocupações? Só raramente nos acompanhavam. A criança em liberdade no meio dos seus camaradas jamais se encontra preocupada, salvo se está doente ou se problemas insuperáveis a dominam. A vida chama-a a si e impele-a para a frente com um otimismo confiante e prometedor. Aproximávamo-nos da escola. As ideias não nos faltavam certamente, e ideias bem originais; as falas surgiam rapidamente, com subtileza e humor; as iniciativas abundavam, boas ou más. E depois, bruscamente, ouvia-se a sineta; produzia-se imediatamente como que um vazio no nosso ser. A vida detinha-se ali, a escola começava: um mundo novo, totalmente diferente daquele em que vivíamos, com outras regras, outras obrigações, outros interesses, ou, o que é mais grave, com uma ausência por vezes dramática de interesse. Contávamos pela última vez os berlindes nos bolsos, escondíamos uma bela amonite descoberta no caminho e que iríamos buscar depois de sairmos; era-nos preciso afastar o cão que nos seguira e que se mostrava surpreendido por ver que nos tornáramos seres anónimos, sem alma, que desapareciam naquele lugar retirado do mundo no qual a vida não contava. A porta fechava-se”. Freinet continua a falar de que a escola vive de costas à realidade, com um currículo que não responde nem aos interesses dos escolares nem aos conteúdos vitais, naturais e sociais do ambiente dos alunos. E que são, infelizmente, muito poucos os docentes conscientes de que no ambiente estão muitos dos temas importantes para ser estudados nas aulas, para ser pesquisados, para escrever sobre eles por meio de textos livres dos estudantes, para os desenhar ou fotografar. Porque a vida é a melhor lição e o ambiente natural e social o melhor livro. Existe uma velha história sobre uma professora chamada Dona Manolita, que regia uma escola numa aldeia do rural galego. Entre os seus alunos tinha um tal Pepinho, que, algo hiperativo, mas com grande curiosidade, a quem sempre estava a rifar pelo que fazia na aula. Um bom dia o escolar chegou à aula e trazia na mão uma rã, que recolhera no caminho para a escola. Isto zangou muito a docente e disse ao aluno “tu és o aluno mais traste que tive nunca, não tens remédio, vai lá fora e deixa a rã onde a colheste, e volta logo que sempre te enredas”. Pepinho sai, e, quando volta, a professora diz a todos os alunos que se encontram na sala de aula: “Abride o livro de ciências e a estudar!” É muito triste ver uma docente assim que não é consciente do motivador que seria utilizar a rã que trazia o escolar para a aula para organizar uma lição ocasional, que podia dar pé a estudar, por exemplo, de forma muito prática e intuitiva, o tema dos anfíbios. Aliás, um tema que figura no currículo oficial da disciplina de ciências no nível de ensino primário. Os grandes educadores, como Freinet, sim que aproveitariam lições ocasionais similares nas suas aulas. E mesmo motivariam para que os seus alunos desenhassem e redigissem textos, poemas, frases alusivas, e elaborassem monografias temáticas sobre temas da vida dos escolares. Neste caso seria uma monografia sobre a rã e os anfíbios.
Para o presente depoimento escolhi desta vez um lindo documentário realizado no ano 2013, com o apoio de organismos como a ONU, a Unesco, a Unicef ou Ajuda em Ação. No mesmo aparecem escolares reais do Quénia, Marrocos (na cordilheira do Atlas), Argentina (zona da Patagónia) e Índia, amostrando as grandes dificuldades que têm para ir à escola, bem pela distância, bem pelas grandes dificuldades do caminho, com numerosos obstáculos, bem pela calor que devem suportar, ou bem pelas deficiências que têm, necessitando de ajuda para levar a cadeira de rodas. Este lindo filme foi realizado pelo diretor francês Pascal Plisson, dando-lhe precisamente o título de A caminho da escola.