Crédito: Arinas74/Freeimages
Por Porvir e Ana Angélica Santos
Seção Diário de Inovações
"Eu me formei em ciências e, em 2001, comecei a ensinar química, depois matemática, ciências e física, em escolas estaduais e municipais. Há mais ou menos cinco anos, recebi a proposta de dar aula para crianças do quarto e quinto ano do fundamental em uma escola particular.
Toda vez que trabalho um conteúdo, tento estudá-lo muito. Busco ensinar da maneira mais criativa possível e percebi que, para crianças, é muito difícil falar de conceitos como classificação, alimentação e reprodução de animais. Mas eles ficam mais fáceis quando fazem parte da realidade e, por isso, tive a ideia de pedir que alunos levassem todos os animais de brinquedo que tivessem em casa.
Para minha surpresa, apareceram alguns que nem eu lembrava e outros da nossa região, como veado [representado pelo bambi], lobo-guará, arara, quati e onça-pintada. Eu mesma virei criança no meio delas. Falei para a classe que não era preciso decorar nada e coloquei todos em uma caixa. Sem olhar, eles tiravam um a um e tinham que falar se era um réptil, ave, mamífero, se tinha metamorfose ou não. Uma coisa é o professor ficar só falando, falando…, outra é ver como isso é visto na natureza sem precisar ficar decorando.
Na matemática não é muito diferente. Depois das atividades propostas pelos livros, sempre sugiro uma dinâmica. Quando ensino as operações, pergunto como isso é usado na prática e fiz a sugestão de por que não relacionar a culinária para trazer os conceitos de soma, subtração, multiplicação e divisão? Com uma turma fiz um bolo e, com outra, uma pizza. Dei a ideia para que eles trouxessem alguém de casa porque, imagina só, eu ia pirar tendo que fazer um bolo com 12 crianças. Eles acharam fantástica a ideia.
Inicialmente usaríamos a cozinha, mas um pai ficou tão ansioso que resolveu fazer em casa e assar na escola. Enquanto isso a pizza não ficava pronta, a gente usava a receita para explicar medida e proporção com os ingredientes e as quantidades de cada um. Os alunos entenderam que a uma quantidade de um ingrediente pode equivaler a duas do outro. Na hora de fatiar, colocamos em prática o que significava fração. Os grupos dividiram seus discos e cada aluno comeu dois pedaços e, o que sobrou, foi distribuído para os outros colegas da escola.
Qualquer profissão tem seus dias de tristeza e de glórias. Toda vez que chego em casa, faço um resumo do dia contando o que precisa ser mudado e o que posso continuar fazendo. Depois dessas aulas, vi que os alunos lembram do que foi discutido mesmo quando chega o fim do ano e aí percebo o quanto um educador pode influenciar a vida de uma pessoa. É isso que me motiva."
Ana Angélica Santos
Graduada em Licenciatura em Ciências pela FAFIDIA(Fundação Educacional do Vale do Jequitinhonha), é professora desde 2001. Iniciou sua profissão lecionando química, depois matemática, ciências, biologia e física, em escolas municipais e estaduais. Atualmente é professora de Ensino Fundamental I no Centro Educacional Nádia Santos Rocha(Colégio CENASR), em Diamantina, MG. Atua, desde outubro de 2009, no Instituto Biotrópicos, ONG voltada a projetos socioambientais.