imagem: GPDOC/Flickr
por Vinícius de Oliveira, Porvir
Se de um lado o setor de ensino online alcança cada vez mais interessados em aprender, ainda persiste o desafio de apresentar experiências práticas que tornem mais fácil o percurso de saída da tela do aluno ou curioso sentado no sofá até a criação de soluções para problemas do mundo real. Esse é um dos pontos levantados no projeto de pesquisa de Dario Vedana, empreendedor e professor universitário, em sua tese de mestrado “Comunicação e processos de educação: limites e avanços da educação mediada pelas tecnologias digitais”.
Para analisar quatro grandes plataformas de aprendizagem presentes no Brasil – Geekie, Khan Academy, Coursera e Udemy -, Vedana percorreu do ensino fundamental aos cursos livres, realizados por grandes universidades, para entender as diferentes estratégias de engajamento. De antemão, Vedana explica que a modalidade online ainda está longe de substituir a presencial quando se fala de cursos de graduação, especialmente por conta da legislação. No caso dos chamados cursos livres, onde o estudante está atrás de uma habilidade específica, isso já acontece. “A educação presencial formal, que garante um diploma, como o de graduação, é autorizada pelo MEC a ter até 20% das disciplinas feitas online. Quando você fica só com aqueles cursos muito técnicos, como por exemplo aprender a programar um site em HTML, aí existe uma boa capacidade de suprir o presencial”, disse, em entrevista ao Porvir.
Segundo Vedana, outra especificidade dos cursos de graduação e pós-graduação feitos de forma tradicional, em sala de aula, é que eles demandam o contato entre alunos, ou se preferir, o popular networking, que pode ser importante mais tarde, na hora de se posicionar no mercado de trabalho ou mesmo na academia. “Na [educação] formal, você depende das pessoas. Um curso de pós também tem muitos elementos técnicos, mas online pode-se acabar perdendo muito da rede de contatos que você tem em sala de aula”, explica.
Plataformas em evolução
O pesquisador coloca as cinco plataformas como fruto de uma quarta onda evolutiva, baseada em ambientes personalizados e centrados no usuário. Mas nem sempre foi assim. Quando a tecnologia começou a entrar nos ambientes de ensino, a ênfase estava nas ferramentas (já ouviu falar do Moodle?). Uma segunda onda, deslocou o foco para a gestão do conteúdo e, a terceira, para as atividades.
“A internet sofreu mudanças desde seu início, lá atrás, com uma tela escura até chegarmos hoje com a estética do algoritmo. Existe uma programação muito forte por trás. Ela é responsável por movimentar o site do jeito que você quiser. Isso também ganhou força na educação online com plataformas como a Udemy“, conta Vedana.
Outro ponto das plataformas online, de acordo com Vedana, é a nova interação professor-aluno-turma. “No Coursera, é preciso entregar uma artigo para formalizar tudo o que aprendeu. Imagina um professor corrigir 1.500 artigos? É impossível. Com o peer to peer [aprendizado entre pares], por sorteio, o trabalho de um aluno que diz que fala inglês é enviado para outro que também domina o idioma. Eles vão trocar feedback [retorno] um com o outro. Isso raramente acontece no presencial e cai aquela barreira que diz que só o que o professor faz está certo”, avalia.
Despertar da tela
Presente desde a primeira onda das tecnologias de aprendizagem, os fóruns de discussão, na opinião de Vedana, continuam sendo subutilizados, mesmo com milhares de usuários matriculados nos cursos. “Eles poderiam ser mais usados por conta da riqueza que é estar em comunidade. Não sei se [a baixa aderência] é inerente às pessoas, se são as plataformas ou o professor”, diz.
Para o pesquisador, é preciso levar em consideração que, em cursos livres, muitas vezes o estudante só quer ter acesso a um ponto específico. “As pessoas não estão necessariamente interessadas em um diploma. Isso pode ser desde uma dieta, um curso de carreira ou autoajuda. A pessoa pode estar apenas buscando uma informação para que ela produza conhecimento e o utilize de forma prática. Esse é um desafio da educação online e até uma das minhas críticas”.
Para explicar seu ponto de vista, ele lembra do teórico de mídia Harry Pross, que vê a humanidade vivendo em uma era de retângulos. E é fácil perceber por quê. Tanto as obras de arte, como as televisões, os celulares e os livros seguem o mesmo formato. “Como fazer com que as pessoas saiam da tela? Esse é o desafio que vejo para conteúdos da educação online. Não é só trazer a teoria. Precisamos pegar experiências práticas e dinâmicas para que o aluno aplique o que está aprendendo no trabalho, converse com alguém, peça auxílio, faça exercício prático no papel. Embora ela seja uma janela que abre oportunidades, ela pode te limitar”, conclui.