Por Instituto Akatu
O Dia da Sobrecarga da Terra está chegando: em 2023, o dia que marca o uso de todos os recursos naturais disponíveis para um ano cai em 2 de agosto, segundo a Global Footprint Network, que começou a fazer esse cálculo em 1971. Agosto mal terá começado quando nós, humanidade, vamos entrar no “cheque-especial do planeta”. Em apenas sete meses, consumimos mais água, matérias-primas, solos e outros recursos naturais do que a Terra é capaz de regenerar em 365 dias!
Isso significa que até o fim de dezembro vamos gastar 1,7 planeta para atender às nossas demandas. Ou seja, precisamos de quase dois planetas de recursos naturais por ano, mas só temos um! Essa data também alerta que nossas emissões de gases de efeito estufa (GEE) seguem em alta e superam tudo o que as florestas e os oceanos conseguem absorver, agravando ainda mais o aquecimento global e a crise climática.
“A notícia não é boa e por isso precisamos focar em caminhos que podem minimizar ou até reverter esse quadro de sobrecarga. Isso passa por ações concretas e efetivas de governos, empresas e consumidores, entendendo que não podemos esperar nem perder mais um ano”, alerta Felipe Seffrin, coordenador de comunicação do Akatu.
Ele explica que uma das soluções é mudar nossa forma de produção e de consumo, na compra, uso e descarte, para modelos mais conscientes e sustentáveis, que levem em consideração os limites da natureza. “Praticando o consumo consciente podemos regenerar ecossistemas e aliviar a conta pesada que cobramos do planeta. Essa é uma prioridade para todos nós”, completa.
Sobrecarga no Clima
A Sobrecarga da Terra é característica de uma humanidade que se acostumou a consumir recursos naturais em excesso, destruindo florestas e áreas verdes para suprir sua demanda de produção e de consumo. Além disso, devolvemos para o meio ambiente altas taxas de emissões e geramos toneladas de resíduos, que prejudicam a água, os solos e o ar. Assim, não há planeta que aguente — e uma das consequências está na crise climática.
Desde a Revolução Industrial, no século 18, despejamos milhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera que levaram a um aquecimento de 1,1ºC da Terra. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para representar riscos a espécies, ecossistemas e pessoas, seja por tragédias naturais decorrentes de enchentes e deslizamentos de terra, seja pela ameaça às lavouras e à segurança alimentar.
A Sobrecarga da Terra e a Crise Climática estão, portanto, intimamente ligadas. E ambas precisam ser enfrentadas de forma conjunta, urgente e eficaz, incluindo ações de regeneração de biomas, de redução de emissões e de mitigação e adaptação climática.
Tudo passa pela alimentação
A produção mundial de alimentos é responsável por 27% das emissões de GEE e por 70% das águas removidas para uso, além de estar associada ao desmatamento e ao uso excessivo de agrotóxicos. Ao mesmo tempo, ainda que muita gente passe fome, temos índices altíssimos de alimentos desperdiçados: se todos os alimentos desperdiçados no mundo formassem um país, ele seria o 3º maior emissor de GEE do planeta, atrás apenas de EUA e China. Ou seja, a forma como nos alimentamos é insustentável.
Repensar nosso padrão de produção e de consumo de alimentos é um dos caminhos para reduzir a sobrecarga da Terra. Isso passa por:
— Evitar excessos e desperdícios na produção e no consumo
— Priorizar alimentos orgânicos, mais saudáveis e sustentáveis
— Valorizar o pequeno produtor local
— Reduzir o consumo de carne vermelha
— Usar alimentos de forma integral
— Fazer a compostagem dos resíduos orgânicos
Quer saber mais? Acesse o guia digital Primeiros Passos: Alimentos.
A Economia Circular faz parte da solução
Outra saída fundamental para reduzir a sobrecarga da Terra está na Economia Circular, modelo econômico cuja produção e consumo busca eliminar desperdícios, reduzir a poluição, manter os materiais em uso e regenerar sistemas naturais.
Desde 1990, três setores ampliaram significativamente as emissões globais de GEE: processos industriais (+174%), transporte (+71%), e fabricação e construção (+55%). Além de representar um aumento de emissões de gases que impulsionam o aquecimento global, estes setores estão associados a um alto consumo de recursos naturais, como água e matérias primas, e à utilização de combustíveis fósseis para a geração de energia.
“As empresas têm uma grande responsabilidade. Primeiro, adotando modelos de produção mais circulares, e também educando colaboradores, fornecedores e clientes para a sustentabilidade e o consumo mais consciente, em harmonia com o meio ambiente e sua biodiversidade”, valoriza Felipe Seffrin.
De acordo com a Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2022, de Akatu e GlobeScan, 84% dos brasileiros querem reduzir seu impacto individual sobre a natureza. “Faltam, portanto, ações por parte das empresas para ajudar a transformar esse desejo por sustentabilidade em ações práticas tanto na compra quanto no uso e no descarte.”
As empresas podem atuar na economia circular de diversas formas. Ao:
— Evitar excessos e desperdícios na produção e na distribuição
— Reduzir a quantidade de recursos (naturais ou não) utilizados
— Desenvolver produtos mais duráveis e mais sustentáveis (design circular)
— Apoiar a reciclagem, a logística reversa e a reutilização de materiais
— Implementar sistemas eficazes de gestão de resíduos
— Investir em programas internos e externos de educação e conscientização
20/07/2023