Por Instituto Akatu
Em 2019, um levantamento da Agência Pública e da Repórter Brasil
apontou que meio milhão de abelhas haviam sido encontradas mortas no Brasil num período de três meses. A notícia chocou a comunidade científica e a sociedade em geral e trouxe um alerta: tais animais correm risco de desaparecer completamente.
Você pode se perguntar o que isso implica em nossas vidas, sobretudo se reside em uma cidade grande e conta nos dedos as vezes que vê uma abelha. Explicamos: abelhas são animais polinizadores — assim como mariposas, libélulas, borboletas, pássaros e morcegos —, que transportam grãos de pólen da parte masculina para a parte feminina de uma flor, possibilitando a sua reprodução. Ou seja, são agentes fundamentais para a manutenção das plantas e da biodiversidade.
Para você ter uma ideia ainda mais exata de quão fundamental é o trabalho dos polinizadores, atente-se a estes dados: no mundo, 75% das plantas com flores precisam desses animais para se reproduzir; no Brasil, 4 de cada 5 espécies de plantas com flores precisam desses animais para serem fecundadas.
Plantas que dão alguns dos ingredientes mais presentes em nossa mesa dependem dos polinizadores, como as macieiras, os tomateiros, o pé de café e o de feijão. Segundo a Ecological Society of America, 1/3 da dieta humana depende dos polinizadores. Sem eles, provavelmente teríamos uma dieta bem menos diversa e nutritiva ou poderíamos até viver uma escassez alimentar, como a ONU já apontou.
Sem eles, também teríamos um cenário diferente para o agronegócio. A soja, principal produto brasileiro de exportação, pode até se reproduzir sem os polinizadores, mas com o auxílio deles as lavouras chegam a produzir 30% mais. De acordo com a Embrapa, se calculado o valor do “serviço prestados pelos polinizadores” à agricultura nacional no ano de 2018, encontramos algo na ordem dos R$ 43 bilhões.
Justamente aí mora um paradoxo: se por um lado os polinizadores são essenciais para a agricultura, por outro é por conta da sua ação nesta atividade que eles correm risco de morte, mais especificamente por causa dos agrotóxicos usados nas lavouras. Os chamados pesticidas ficam na superfície das plantas e os animais polinizadores, ao buscar o pólen, acabam ingerindo suas substâncias e se contaminando. Vale lembrar que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e em 2019 liberou o uso de um número recorde de novos pesticidas, aumentando, assim, o risco de contaminação dos animais.
Porém, antes mesmo dos agrotóxicos, a maior ameaça aos polinizadores é a degradação ou a perda de seu habitat. Isso acontece sobretudo com o desmatamento, quando áreas nativas são substituídas por rodovias ou culturas agrícolas, fazendo com que os polinizadores percam seus alimentos e ninhos.
– Na Europa, o número de espécies de polinizadores em risco de extinção já é enorme: 1/3 das populações de abelhas e borboletas estão ameaçadas. E, no mundo, estudos mostram que a destruição de habitat ocasionada pela agricultura intensiva resulta em perda de 60% das abelhas nativas.
– Há ainda pesquisas apontando que sem o serviço dos polinizadores a agricultura global pode reduzir de 5 a 8% o seu cultivo total.
– Para não perder produtividade, vários países, com destaque para os Estados Unidos, têm adotado a prática de alugar colméias em locais onde não existem mais abelhas. Eles as colocam em sua lavoura durante um determinado período para que o serviço de polinização seja feito.
– Na China, há casos ainda mais extremos: pessoas são contratadas para fazer o trabalho de polinização de macieiras com as mãos em lugares onde os polinizadores já não habitam. Cada pessoa poliniza de 5 a 10 frutas por dia. Inacreditável, não é? Saiba mais sobre este e outros exemplos no episódio O Fim da Picada, do podcast A Terra É Redonda.
– Ao ler o texto acima você adquiriu informações sobre a importância dos polinizadores na manutenção da biodiversidade? Então espalhe o que aprendeu para as pessoas ao seu redor. Esta é uma atitude simples para começar a contribuir com a preservação deles.
– Ainda que viva em cidades grandes e o aparecimento de abelhas seja raro, se uma surgir em sua janela nem pense em matá-la. Ao contrário, cogite criar um jardim no quintal ou na varanda para atrair abelhas, pássaros e outros polinizadores. Se não tiver espaço suficiente, proponha a implementação de um jardim no seu condomínio ou na praça comunitária. Confira aqui sugestões para a construção dele, aqui um passo a passo para criar abelhas sem ferrão e aqui dicas para evitar picadas.
– Na hora de comprar alimentos, dê preferência aos orgânicos sempre que possível, já que o seu cultivo é livre de agrotóxicos, substâncias que têm causado a morte das abelhas.
– Prefira comprar de pequenos produtores, pois em geral eles cultivam várias culturas, o que contribui para a manutenção dos polinizadores.
– Produtores locais também são a melhor opção na hora de adquirir mel. Eles costumam ter um cuidado maior com as abelhas, produzindo de acordo com sua capacidade natural.
– Você ainda pode apoiar campanhas em prol da preservação dos polinizadores. O Greenpeace convida a participar do Salve as Abelhas, campanha para diminuir o uso de agrotóxicos e estimular a agroecologia. E a ONG Bee Or Not To Be tem uma série de projetos para a preservação das abelhas que contam com o apoio da sociedade em geral.
Para entendermos melhor a relação de interdependência entre a espécie humana e a biodiversidade do planeta e para aprendermos maneiras de ajudar a reverter o cenário de degradação a partir de nossos hábitos de consumo, vamos nos aprofundar um pouco mais em três questões:
– Biodiversidade importa!
– Qual a relação entre aquecimento global e biodiversidade?
– Como a pesca atual impacta a vida marinha e a humana?
Clique em cada um deles e continue com a gente!